terça-feira, outubro 31, 2006

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Compreensão Incompreensível

Algumas vezes me apaixono por puríssimo amor. É que sinto um quase-tudo da pessoa que me ama com os olhos ou através do ar e do tempo mesmo. E é natural e reciprocamente inevitável que eu imediatamente ame tal pessoa então.

Não se trata de desejo, nem vontade e nem escolha. O amor é sempre inerente a minha decisão de amar ou não. A única escolha que tento fazer é o modo como expressar esse amor, mas muitas vezes isso é por demais complicado. Eu misturo o desejo que sinto nos outros com o meu. E o meu desejo eu desconheço e portanto passo a desejar o oposto idêntico do que me deseja. Meu desejo é o de suprir um desejo. Mas minha expressão é sempre um erro.

Sou tão cego quanto um cego que tem nas mãos o desenho de seu destino. Posso sentir os traços pelas voluptuosidades da força aplicada no papel, mas cores não reconheço pelo cheiro. Acho que só sinto cheiro de espíritos, é uma deficiência eu ter vindo com dois sentidos a menos, talvez pra compensar os tantos sentidos a mais, que já me esgotam por demais. Mas talvez eu não sinta cheiro porque sou um fumante. Minha única certeza é o cheiro das árvores, quer eu fume ou não, o cheiro é evidente por todo o ar. Ainda bem que posso sentir o cheiro das árvores e das pessoas, mas não sinto cheiro de chocolate, é uma pena. No entanto sinto cheiro de moradias. Acho que as moradias têm espírito.

Minha experiência maior é quando auxilio a realização de desejos alheios. Também reside em meu âmago o desejo profundo e audacioso de compreender o olhar de uma baleia ou de um elefante. Quando criança eu conseguia, mesmo de longe. Quando era criança tudo era cheiro. Eu sentia o mundo pra não compreendê-lo.

O amor me é intrínseco. Não tenho como escondê-lo de mim.



Um elefante no zoológico é como um anjo órfão que teve as asas amputadas pra que ninguém o re-conhecesse e assim não o ajudasse.

Não posso ir ao zoológico. Morreria por semanas, talvez meses...

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