sexta-feira, outubro 20, 2006

intermináveis inúmeras fases
























- Uma impossibilidade para o óbvio -


Começou na areia da praia:

Na verdade eu não estava lá mas,

sim, numa sala de aula burguesa e ortodoxa

Meus pensamentos, guiados pelos ventos

(que empurravam o branco das nuvens

naquele pedacinho de céu por trás das cortinas pesadas

daquela sala de aula gelada)

foram levados soltos

como uma folha de papel

que flutua na correnteza dos ventos tempestuosos

E os pensamentos pousaram na areia de uma praia quase lunar

onde um silêncio infinito como um instante

pôde de repente ser interrompido com gosto:

uma grossa gota marcou aquele solo arenoso com o batuque de um extasiante

silêncio barulhento.


Era uma tempestade matinal que se eclodia

e finalmente choveu e escorreu rios pluviais por mim

e uma onda estourando na areia fez com o som me elevar acima das nuvens e do vento e inalar todo o azul com a minha amplitude de 'juvenessência'


Tudo aquilo que chamei de...

minha primeira poesia

como a onda que espatifava sua eletricidade nos poros da areia dura

o mais curioso é que o poema

passou por mim, não me saiu de dentro

não o captei do universo ao redor ...

Não o construí, não o montei

foi o mais puro vômito

de minhas entranhas imaginativas aprisionadas

na gravidade de 3 paredes e um quadro-negro que era verde e inútil a maior parte do tempo

mais inútil que a vivência de um poema


Mas talvez fosse o poema um pouco de tudo aquilo que era-me inenarrável, todas as intocáveis coisas que talvez ali no indefinido dajá'vú conseguiam finamente me tocar, sem que existisse dor pra se sentir a vida.

Sentia que o poema não era meu, contudo.

E de fato vim descobrir o quão independentes são estes escritos

Incontroláveis, indomesticáveis

que me enlaçam feito uma presa e

só me fazem livres quando livres forem de mim tais escritos

que nunca escolheram hora para nascer

nunca avisaram que iam aparecer...


tenho mesmo muito o que aprender

com tudo isso que não sei

que passa por entre meus dedos

tremendo-os

fazendo surgir estas palavras tortas

estes garranchos inconstantes

Essas chuvas cíclicas e imprevisíveis

todo este ácido de metáforas, ironias, sarcasmos e invenções sem finalidade alguma

No começo confesso que pensei tratar-se de uma simples fase

e eu estava certo, porém incompleto:

O começo de uma grande fase de intermináveis inúmeras fases

que a partir de então eu passei a enfrentar

derrotando meus medos

para fortalecer cada vez ainda mais o caminho daquela interminável metamorfose que me ATOR(ali)MENTAVA


Infinitas personalidades passaram a me coabitar

e fui aos poucos me acostumando a não ser sosinho, a não ser uno, mas único

por não ser específico


e desconhecer


uma possibilidade para o óbvio.

E foi escrevendo poesias que descobri:

Queria ser ator; e já era

só não havia ainda encontrado o público e nem palco pra sentir-me família(sintonia), no labirinto de palavras e caligrafias mutantes. Queria viver o explendor da liberdade; uma ilusão que só eu poderia ter criado, uma possibilidade de ilusão, livre, inclusive de mim.

E eis minha vocação no universo coletivo: a fantasia.... a criação....

Só (,) nasci para amar . . .

Nenhum comentário: