- Uma impossibilidade para o óbvio -
Começou na areia da praia:
Na verdade eu não estava lá mas,
sim, numa sala de aula burguesa e ortodoxa
Meus pensamentos, guiados pelos ventos
(que empurravam o branco das nuvens
naquele pedacinho de céu por trás das cortinas pesadas
daquela sala de aula gelada)
foram levados soltos
como uma folha de papel
que flutua na correnteza dos ventos tempestuosos
E os pensamentos pousaram na areia de uma praia quase lunar
onde um silêncio infinito como um instante
pôde de repente ser interrompido com gosto:
uma grossa gota marcou aquele solo arenoso com o batuque de um extasiante
silêncio barulhento.
Era uma tempestade matinal que se eclodia
e finalmente choveu e escorreu rios pluviais por mim
e uma onda estourando na areia fez com o som me elevar acima das nuvens e do vento e inalar todo o azul com a minha amplitude de 'juvenessência'
Tudo aquilo que chamei de...
minha primeira poesia
como a onda que espatifava sua eletricidade nos poros da areia dura
o mais curioso é que o poema
passou por mim, não me saiu de dentro
não o captei do universo ao redor ...
Não o construí, não o montei
foi o mais puro vômito
de minhas entranhas imaginativas aprisionadas
na gravidade de 3 paredes e um quadro-negro que era verde e inútil a maior parte do tempo
mais inútil que a vivência de um poema
Mas talvez fosse o poema um pouco de tudo aquilo que era-me inenarrável, todas as intocáveis coisas que talvez ali no indefinido dajá'vú conseguiam finamente me tocar, sem que existisse dor pra se sentir a vida.
Sentia que o poema não era meu, contudo.
E de fato vim descobrir o quão independentes são estes escritos
Incontroláveis, indomesticáveis
que me enlaçam feito uma presa e
só me fazem livres quando livres forem de mim tais escritos
que nunca escolheram hora para nascer
nunca avisaram que iam aparecer...
tenho mesmo muito o que aprender
com tudo isso que não sei
que passa por entre meus dedos
tremendo-os
fazendo surgir estas palavras tortas
estes garranchos inconstantes
Essas chuvas cíclicas e imprevisíveis
todo este ácido de metáforas, ironias, sarcasmos e invenções sem finalidade alguma
No começo confesso que pensei tratar-se de uma simples fase
e eu estava certo, porém incompleto:
O começo de uma grande fase de intermináveis inúmeras fases
que a partir de então eu passei a enfrentar
derrotando meus medos
para fortalecer cada vez ainda mais o caminho daquela interminável metamorfose que me ATOR(ali)MENTAVA
Infinitas personalidades passaram a me coabitar
e fui aos poucos me acostumando a não ser sosinho, a não ser uno, mas único
por não ser específico
e desconhecer
uma possibilidade para o óbvio.
E foi escrevendo poesias que descobri:
Queria ser ator; e já era
só não havia ainda encontrado o público e nem palco pra sentir-me família(sintonia), no labirinto de palavras e caligrafias mutantes. Queria viver o explendor da liberdade; uma ilusão que só eu poderia ter criado, uma possibilidade de ilusão, livre, inclusive de mim.
E eis minha vocação no universo coletivo: a fantasia.... a criação....
Só (,) nasci para amar . . .
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