domingo, dezembro 31, 2006
quinta-feira, dezembro 28, 2006
quarta-feira, dezembro 27, 2006
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Ocorre que a manhã não é tão cinza e nem tão fria quanto aquela ferida familiar. Ocorre todas as manhãs que a beleza da existência do mundo é a maior de todas as belezas, inerente à toda exuberante feiúra da modernidade pós moderna pós etc o que for que se chame além do eterno hoje contemporâneo. Ocorre que o cinza da névoa é infinitamente mais colorido que o cinza do céu de São Paulo, e todo encontro de olhares ao acaso é mais genuíno que os olhos que combinam de fragarem-se* sem conseguirem se enxergar...
Multidões engulo, os olhares fugidios trincados como bocas cerradas a mordiscar vorazmente na eterna salgada sede, como a de um lobo solitário do mar, um tubarão faminto a viajar por desertos de oceânicas multidões em busca do cheiro do desastre... Invisível vermelho estampado nos jornais. É a violência ou o medo que estão noticiando???
Fluo pela invisibilidade antropológica das calçadas enfeitadas, e cheias de buracos e pés e pedaços de passados esquecidos à se embaralharem com o vento do colorido cinza de uma névoa que sopra vinda do mar. A névoa mergulha toda a cidade, que debaixo dos lençóis brancos, faz transpirar somente a arte nos contornos geológicos e curvas litorâneas...
Mordisco os pedacinhos de paisagem que sobrevivem por detrás de tanta geometria de cimento, concreto e pedras burguesas. No chão da calçada tonta as pedras portuguesas a me empurrar para o céu, penetrando pela alma de meus pés até me fazerem sentir minha ingenuidade pacifica desvirginada por toda a sujeira e sangue derramado pela história muitas vezes negra daquela cidade 'maravilhosa'. Cheia de encantos mil? Chato é não poder negar...
E ocorre todas as manhãs, com a fundamental diferença que, quando aberta aquela ferida, eu grito:
{ { *Fragar – (vivo no vocabulário Mineiro) – ato de enxergar, ver, avistar, contemplar } }
terça-feira, dezembro 26, 2006
Independentemente
Ah se eu te fizesse feliz
feliz mesmo
assim por ser... por respirar e viver
ah se eu pudesse fazer você feliz
Mas não
meu amor não te liberta
meu amor te aprisiona como um peixe à um aquário
à passear dando voltas e mais voltas
na eterna sensação de que algo que está para acontecer.
Mas o amor acontece no agora e não no depois..
no amor não tem o além da abstração do tempo
o amor é atemporal
independentemente dependente
numa mutualidade sem escolha
sem argumentos que a conduzam
sem contratos que a fechem
o Amor exite
independentemente
Dizer à Ela
Em Trânsito
Em trânsito
A semana voou como uma mariposa machucada; desgovernada, caótica, perdida... Não sabia que amigdalite dava tanta tristeza. Preferia ter ficado gripado. Meus dias passam tontos porque estou tomando antibióticos. Ou talvez por que eu esteja com amigdalite ou talvez porque eu simplesmente esteja tonto esses últimos dias... Sinto que no chão existem inúmeras curvas, penso que é alucinação, mas é sensibilidade. As curvas realmente existem. Nenhum chão consegue ser exatamente reto.
Depois de uma super onda de calor durante toda a semana finalmente uma gorda chuva vem repousar na cidade ensolarada. Meus músculos ficaram todos agradecendo a umidade no ar e a queda da temperatura. Meu corpo pareceu aceitar as mudanças climáticas, mas meu espírito queria muito ver sol... Fiquei triste com a chuva, totalmente à toa, ou talvez porque estivesse tomando antibióticos, ou talvez ainda porque simplesmente eu tivesse muitas tristezas pra ficar triste assim, de repente, como a chuva de verão.
O Natal está chegando e um burburinho gostoso de caos paira por sobre as ruas num frenesi coletivo de euforia consumista. Acho bom e ruim. É divertida a euforia das pessoas, mas a ignorância delas é triste demais.. intragável. Não fosse a ignorância eu teria muito mais orgulho do povo meu pelas ruas, mas tudo legal, porque não considero orgulho um sentimento bom. Aliás não sei exatamente do quê eu me orgulho. Talvez seja dos meus maiores erros... Foram eles que me trouxeram tão longe quanto aqui estou e neles fui capaz de aprender além do que eu poderia almejar alcançar... Sim, de errar eu me orgulho...
É tão bom ser humano, mas parece que poucos desfrutamos deste segredo tão óbvio...
uF
domingo, dezembro 24, 2006
Seguindo para o infinito
Partindo para o infinito...
Ele tinha os pés colados na terra mais que no sapato. Tirou os sapatos. O sol fazia crescer a grama e o verde à seus olhos. Hoje completava 9 anos de vida. Antes que qualquer outro na casa acordasse, ele caminhou pelas águas do rio que musicava a varanda de seu lar. O sol parecia o empurrar nas costas, e ele foi subindo o rio. De repente se deu conta: havia andado além do que nunca andara antes, e o rio dali em diante seria tudo novidade, genuína aventura.
Incentivado pela força da luz nascente à derramar-se perpendicular em suas costas, ele prosseguiu, passo a passo, sentindo cada areia fria rolar pela sola de seu pé, cada lodo estranho alisar a ponta de seus dedos, e toda sua embarcação rio acima deslizar por dentro-e-fora da água. No caminho surgiram muitas pedras (e muito mais lodo) e a água ficou um tanto quanto mais perturbada. Ele então olhou para trás. Já não via sua própria casa, e adiante não haviam mais quintais, era a floresta virgem que adentrava, rio intocado e virgem como ele mesmo era. Não teve relutância, e a coragem lhe abriu no peito como faz a flor das “onze-horas” quando o sol lhe toca no ângulo apropriado para tamanho gozo de experimentação vital, e ele foi adiante...
Enfrentou as corredeiras. Subiu uma queda d'água e o sol avermelhou seu rosto quando chegou em cima, ele sentiu. Sentiu tudo que já vivera até ali, e nesse momento então foi como se deslumbrasse a verdadeira possibilidade de seu futuro adiante tão previsível quanto o passado, cheio de intuições, erros e certezas cegas... Todo molhado, quente, efervescente ... Como se fosse um milho prestes à estoura-se pipoca, estava ele diante do sol e de seus nove anos de idade. E explodiu, repentinamente. Pulou margem afora e saiu correndo por um gramado enorme que sumia-se por horizonte adentro de um vale cheio de verdes claros e escuros. Os cabelos eram como asas que ruflavam naturalmente com o vento. Respirou seus nove anos, atônito. E num tranco, parou de correr. O silêncio da ausência de vento. Os grilinhos muito pequenos com seus barulhinhos microscópicos. Mosquitinhos e um cheiro impregnante de verde, de pasto, parecia que dali sentia o cheiro do planeta inteiro.
Caiu sobre os joelhos, tonto. O coração tinha uma música toda nova em seus compassos. Algum pássaro cantou, e ele soube que só ele soube que o pássaro estava lá, exatamente como ele imaginava, acompanhando o som, o pássaro estar. O Som fértil no ar. Deitou-se, extasiado de liberd4de, respirando a manhã enriquecida de polens. Estava entregue ao desconhecimento, à alegre loucura de se saber pensante, ao inefável encanto de contemplar com todo o corpo, ao pudor de se derreter numa imensa epifania, capaz de, a partir dali, mudar não só a si mesmo, mas, e por isso mesmo, mudar todo o mundo.
uF
no 4o
- Talvez seja este seu veneno a única cura para minha sanidade -
No teto quadrado
um redondo universo gira
tirando o foco de qualquer coisa
as estrelas artificiais
eu abstraio
captando os pseudo-brilhos
para melhorá-los na minha imaginação
e quanto ao barulho do motor do aquário - que já nem tenho mais
ouço o exato ritmo da cidade enfurecida
um batuque trêmulo de compasso acelerado
frenético borbulhar de som ensanguentado e incessante
que me pira e me gira e me gira e me pira
e eu aqui sozinho
entre tantas estrelas
tantas imagens
tantas mentiras
tantas memórias
tantas verdades...
e esse sal que escorre nas lágrimas
este sal indecifrável
este céu salgado de dores e desejos
e inúmeros temperos misturados
às vezes quero me entregar ao vazio pleno
deste giro
mas você, AH! VOCÊ!!!
TU: Sã Consciência
jamais me abandonarás
Sou lúcido até em minhas piores loucuras...
sexta-feira, dezembro 22, 2006
quarta-feira, dezembro 20, 2006
Indo
Indo
Arte, ciência e religião.
Os três pilares do desenvolvimento humano...
A expressão, ( o contato)
a observação, ( o estudo )
a meta-sensorialidade... ( o alcance )
Na minha interna concepção de ecodesenvolvimento meu
tenho como pilares a ciência e a religião
como uma coisa única e fundida
onde o estudo, a observação e a lógica
só tem completude e comprovação
quando o corpo em sensações faz parte integrante
dessa experiência maior
que é estar vivo e experimentar o conhecer
(conhecendo-se portanto)
A arte
é o lugar comum
onde posso finalmente me aproximar de “Deus”
tanto no sentido da onisciência das ciências
quanto no sentido sensitivo-e-sensível
da percepção além da lógica dos 5 sentidos
presente em algumas religiões...
Pra mim uma é estudo da outra
oporem-nas seria como anularem-nas...
E a Arte é como a voz que sai dos meus olhos
na vibração terceira de sentidos que escapam a razão
e captam o íntimo do infinito auge que é viver em comunhão
A arte é o meu cantar um abraço
meu curvar um sorriso
nosso tocar um toque
A arte é meu ir
E a minha ciência-religião
(que não são nenhuma coisa e nem outra e nem as duas coisas juntas)
que é um coisa toda ajuntada (ci re em lig cia ião)
é meu permanecer
mas vou . . .
sexta-feira, dezembro 15, 2006
terça-feira, dezembro 12, 2006
Divagações na boca da Urna
Texto de Caio Fernando Abreu
extraído do livro-coletânea:
PEQUENAS EPIFANIAS
A tosca Interpretação é de Uirah Felipe
quinta-feira, dezembro 07, 2006
Auto-retrato
Lentes de Contato
Meu auto-retrato talvez fosse o auto-retratar
ou talvez fosse o próprio retrato
do auto-retratar
ou ainda
o retratando do mundo
que é tão tudo
que resume em mim...
Retratando-me, retrato-O!
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Retratando
relato
para o meu inconsciente
o íntimo dos fatos
fotografados eternamente
é como a foto da lente de um poeta
uma memória cheia de sentidos intrísecalizados
de pensamentos, tempos e sabores encadeados
num frenesi retórico de sentimentos gestualizados
misturados em emoções com o palavreado
Um simples de ser não um par de olhos
mas sim aquilo que vê
Um sublime de pertencer gratuitamente
Eterna epifania de viver...
- Uirah Felipe -
Muitas vezes sou invadido pela sensação de que as coisas são muito mais reais depois que já aconteceram. Ou o contrário. Só parece real aquilo que é agora. o resto é praticamente invenção.
...como fugir dos paradoxos?
terça-feira, dezembro 05, 2006
vou que vou . . .
Gotas de silêncio
Gotas de silêncio
Porque? Não sei. No momento em que me dei conta de que estava definitivamente acontecendo fui atacado por uma forte emoção estonteante que tomou conta de meu corpo fazendo-me trêmulo, vertiginoso e iminente.Não sei o que era, porque não poderia definir nem como medo e nem como segurança, nem alegria exatamente, era algo intensamente manso, uma calma sublime e agitada, uma concentração de serenidade cheia de energia, e uma espécia de nada desceu em meus olhos e pensei que viriam lágrimas, mas apenas sorri, sem alegria ou pavor. As gargalhadas do público me atravessavam feito relâmpagos, e eu nem havia ainda entrado em cena. É certo que eu estava maravilhado, como num pânico tranquilo, onde se depara no cume de uma montanha tortuosa com o cenário deslumbrante do Rio de Janeiro. É desta inefabilidade que estou tentando me aproximar... Deste encanto natural e inerente. Desta água que desce dos olhos cortando a imagem do mundo num brilho de compreensão espantada... De lágrimas invisíveis que sorriem como a chuva de primavera, brilho ofuscante do inefável belo que pode-se perceber no tudo... com meus olhos nada.... nadando. Sim, era um nada que me atacava. Um “Fudeu... e agora relaxe e...” ... E foi como uma avalanche de folhas em ventania que prenuncia tempestade. Sim, uma coisa toda ventosa que enxurrava-me como na abertura de uma represa... uma descarga elétrica forte e sem dor, um apenas existir de movimento, um simples movimentar e ser... Um sendo-movimento. Toda uma espécie especial de despertar . . . Quando um choro se contém, uma alegria deixa de brotar...
Uirah Felipe