quarta-feira, dezembro 27, 2006

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Ocorre que a manhã não é tão cinza e nem tão fria quanto aquela ferida familiar. Ocorre todas as manhãs que a beleza da existência do mundo é a maior de todas as belezas, inerente à toda exuberante feiúra da modernidade pós moderna pós etc o que for que se chame além do eterno hoje contemporâneo. Ocorre que o cinza da névoa é infinitamente mais colorido que o cinza do céu de São Paulo, e todo encontro de olhares ao acaso é mais genuíno que os olhos que combinam de fragarem-se* sem conseguirem se enxergar...

Multidões engulo, os olhares fugidios trincados como bocas cerradas a mordiscar vorazmente na eterna salgada sede, como a de um lobo solitário do mar, um tubarão faminto a viajar por desertos de oceânicas multidões em busca do cheiro do desastre... Invisível vermelho estampado nos jornais. É a violência ou o medo que estão noticiando???

Fluo pela invisibilidade antropológica das calçadas enfeitadas, e cheias de buracos e pés e pedaços de passados esquecidos à se embaralharem com o vento do colorido cinza de uma névoa que sopra vinda do mar. A névoa mergulha toda a cidade, que debaixo dos lençóis brancos, faz transpirar somente a arte nos contornos geológicos e curvas litorâneas...














Mordisco os pedacinhos de paisagem que sobrevivem por detrás de tanta geometria de cimento, concreto e pedras burguesas. No chão da calçada tonta as pedras portuguesas a me empurrar para o céu, penetrando pela alma de meus pés até me fazerem sentir minha ingenuidade pacifica desvirginada por toda a sujeira e sangue derramado pela história muitas vezes negra daquela cidade 'maravilhosa'. Cheia de encantos mil? Chato é não poder negar...

E ocorre todas as manhãs, com a fundamental diferença que, quando aberta aquela ferida, eu grito:














{ { *Fragar – (vivo no vocabulário Mineiro) – ato de enxergar, ver, avistar, contemplar } }

terça-feira, dezembro 26, 2006

Divagações em torno de uma antiga epifania

Independentemente


















Ah se eu te fizesse feliz

feliz mesmo

assim por ser... por respirar e viver

ah se eu pudesse fazer você feliz

Mas não

meu amor não te liberta

meu amor te aprisiona como um peixe à um aquário

à passear dando voltas e mais voltas

na eterna sensação de que algo que está para acontecer.

Mas o amor acontece no agora e não no depois..

no amor não tem o além da abstração do tempo

o amor é atemporal

independentemente dependente

numa mutualidade sem escolha

sem argumentos que a conduzam

sem contratos que a fechem

o Amor exite

independentemente

Dizer à Ela


















Quem disse o som da palavra querendo denominá-la?

Quem entendeu ser além de um som?

Quem de fato disse alguma coisa?

Não há o que ser dito

sem ser vivido

então


são


os


q


F

_A
___Z
____E
_____M


______que

_________Estão

___________de fato

____________dizendo


diretamente para o mundo?


Em Trânsito
















































Em trânsito


A semana voou como uma mariposa machucada; desgovernada, caótica, perdida... Não sabia que amigdalite dava tanta tristeza. Preferia ter ficado gripado. Meus dias passam tontos porque estou tomando antibióticos. Ou talvez por que eu esteja com amigdalite ou talvez porque eu simplesmente esteja tonto esses últimos dias... Sinto que no chão existem inúmeras curvas, penso que é alucinação, mas é sensibilidade. As curvas realmente existem. Nenhum chão consegue ser exatamente reto.


Depois de uma super onda de calor durante toda a semana finalmente uma gorda chuva vem repousar na cidade ensolarada. Meus músculos ficaram todos agradecendo a umidade no ar e a queda da temperatura. Meu corpo pareceu aceitar as mudanças climáticas, mas meu espírito queria muito ver sol... Fiquei triste com a chuva, totalmente à toa, ou talvez porque estivesse tomando antibióticos, ou talvez ainda porque simplesmente eu tivesse muitas tristezas pra ficar triste assim, de repente, como a chuva de verão.


O Natal está chegando e um burburinho gostoso de caos paira por sobre as ruas num frenesi coletivo de euforia consumista. Acho bom e ruim. É divertida a euforia das pessoas, mas a ignorância delas é triste demais.. intragável. Não fosse a ignorância eu teria muito mais orgulho do povo meu pelas ruas, mas tudo legal, porque não considero orgulho um sentimento bom. Aliás não sei exatamente do quê eu me orgulho. Talvez seja dos meus maiores erros... Foram eles que me trouxeram tão longe quanto aqui estou e neles fui capaz de aprender além do que eu poderia almejar alcançar... Sim, de errar eu me orgulho...

É tão bom ser humano, mas parece que poucos desfrutamos deste segredo tão óbvio...



uF

domingo, dezembro 24, 2006

Seguindo para o infinito






























































Partindo para o infinito...


Ele tinha os pés colados na terra mais que no sapato. Tirou os sapatos. O sol fazia crescer a grama e o verde à seus olhos. Hoje completava 9 anos de vida. Antes que qualquer outro na casa acordasse, ele caminhou pelas águas do rio que musicava a varanda de seu lar. O sol parecia o empurrar nas costas, e ele foi subindo o rio. De repente se deu conta: havia andado além do que nunca andara antes, e o rio dali em diante seria tudo novidade, genuína aventura.


Incentivado pela força da luz nascente à derramar-se perpendicular em suas costas, ele prosseguiu, passo a passo, sentindo cada areia fria rolar pela sola de seu pé, cada lodo estranho alisar a ponta de seus dedos, e toda sua embarcação rio acima deslizar por dentro-e-fora da água. No caminho surgiram muitas pedras (e muito mais lodo) e a água ficou um tanto quanto mais perturbada. Ele então olhou para trás. Já não via sua própria casa, e adiante não haviam mais quintais, era a floresta virgem que adentrava, rio intocado e virgem como ele mesmo era. Não teve relutância, e a coragem lhe abriu no peito como faz a flor das “onze-horas” quando o sol lhe toca no ângulo apropriado para tamanho gozo de experimentação vital, e ele foi adiante...


Enfrentou as corredeiras. Subiu uma queda d'água e o sol avermelhou seu rosto quando chegou em cima, ele sentiu. Sentiu tudo que já vivera até ali, e nesse momento então foi como se deslumbrasse a verdadeira possibilidade de seu futuro adiante tão previsível quanto o passado, cheio de intuições, erros e certezas cegas... Todo molhado, quente, efervescente ... Como se fosse um milho prestes à estoura-se pipoca, estava ele diante do sol e de seus nove anos de idade. E explodiu, repentinamente. Pulou margem afora e saiu correndo por um gramado enorme que sumia-se por horizonte adentro de um vale cheio de verdes claros e escuros. Os cabelos eram como asas que ruflavam naturalmente com o vento. Respirou seus nove anos, atônito. E num tranco, parou de correr. O silêncio da ausência de vento. Os grilinhos muito pequenos com seus barulhinhos microscópicos. Mosquitinhos e um cheiro impregnante de verde, de pasto, parecia que dali sentia o cheiro do planeta inteiro.


Caiu sobre os joelhos, tonto. O coração tinha uma música toda nova em seus compassos. Algum pássaro cantou, e ele soube que só ele soube que o pássaro estava lá, exatamente como ele imaginava, acompanhando o som, o pássaro estar. O Som fértil no ar. Deitou-se, extasiado de liberd4de, respirando a manhã enriquecida de polens. Estava entregue ao desconhecimento, à alegre loucura de se saber pensante, ao inefável encanto de contemplar com todo o corpo, ao pudor de se derreter numa imensa epifania, capaz de, a partir dali, mudar não só a si mesmo, mas, e por isso mesmo, mudar todo o mundo.

uF



no 4o
















































- Talvez seja este seu veneno a única cura para minha sanidade -


No teto quadrado

um redondo universo gira

tirando o foco de qualquer coisa

as estrelas artificiais

eu abstraio

captando os pseudo-brilhos

para melhorá-los na minha imaginação

e quanto ao barulho do motor do aquário - que já nem tenho mais

ouço o exato ritmo da cidade enfurecida

um batuque trêmulo de compasso acelerado

frenético borbulhar de som ensanguentado e incessante

que me pira e me gira e me gira e me pira

e eu aqui sozinho

entre tantas estrelas

tantas imagens

tantas mentiras

tantas memórias

tantas verdades...

e esse sal que escorre nas lágrimas

este sal indecifrável

este céu salgado de dores e desejos

e inúmeros temperos misturados

às vezes quero me entregar ao vazio pleno

deste giro

mas você, AH! VOCÊ!!!

TU: Sã Consciência

jamais me abandonarás

Sou lúcido até em minhas piores loucuras...

sexta-feira, dezembro 22, 2006

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Indo





















































Indo


Arte, ciência e religião.

Os três pilares do desenvolvimento humano...

A expressão, ( o contato)

a observação, ( o estudo )

a meta-sensorialidade... ( o alcance )


Na minha interna concepção de ecodesenvolvimento meu

tenho como pilares a ciência e a religião

como uma coisa única e fundida

onde o estudo, a observação e a lógica

só tem completude e comprovação

quando o corpo em sensações faz parte integrante

dessa experiência maior

que é estar vivo e experimentar o conhecer

(conhecendo-se portanto)


A arte

é o lugar comum

onde posso finalmente me aproximar de “Deus”

tanto no sentido da onisciência das ciências

quanto no sentido sensitivo-e-sensível

da percepção além da lógica dos 5 sentidos

presente em algumas religiões...


Pra mim uma é estudo da outra

oporem-nas seria como anularem-nas...


E a Arte é como a voz que sai dos meus olhos

na vibração terceira de sentidos que escapam a razão

e captam o íntimo do infinito auge que é viver em comunhão


A arte é o meu cantar um abraço

meu curvar um sorriso

nosso tocar um toque


A arte é meu ir


E a minha ciência-religião

(que não são nenhuma coisa e nem outra e nem as duas coisas juntas)

que é um coisa toda ajuntada (ci re em lig cia ião)

é meu permanecer


mas vou . . .


quinta-feira, dezembro 07, 2006

Auto-retrato
























Lentes de Contato


Meu auto-retrato talvez fosse o auto-retratar

ou talvez fosse o próprio retrato

do auto-retratar

ou ainda

o retratando do mundo

que é tão tudo

que resume em mim...


Retratando-me, retrato-O!


---


Retratando

relato

para o meu inconsciente

o íntimo dos fatos

fotografados eternamente


é como a foto da lente de um poeta


uma memória cheia de sentidos intrísecalizados

de pensamentos, tempos e sabores encadeados

num frenesi retórico de sentimentos gestualizados

misturados em emoções com o palavreado


Um simples de ser não um par de olhos

mas sim aquilo que vê

Um sublime de pertencer gratuitamente

Eterna epifania de viver...


- Uirah Felipe -



Muitas vezes sou invadido pela sensação de que as coisas são muito mais reais depois que já aconteceram. Ou o contrário. Só parece real aquilo que é agora. o resto é praticamente invenção.



...como fugir dos paradoxos?

terça-feira, dezembro 05, 2006

vou que vou . . .













Estou ansioso pra comprar minha máquina fotográfica. E porque quero tanto fotografar? Talvez seja mais instantâneo que a escrita. Talvez seja mais subjetivo e ao mesmo tempo mais objetivo. Uma espécie de precisão no que é capturável... Talvez seja mais único por ser tão instantâneo, mas ao mesmo tempo profundo demais na precisão e talvez por isso raso, por ser tão previsível... Talvez a verdade não esteja nem na forma ou nas ideias e nem em nada paupável ou visível ou arquetipicamente possível. Verdade é o intangível. Porque foi preciso tanto esforço e tempo para conseguir aquilo que m era de tanto desejo apaixonado? Tenho pontos de interrogação demais em meu vocabulário, será possível dizer com somente perguntas? Quem diz é quem lê, não me canso de escrever isso, e nem de dizer, e não digo mais nada, vou ler Clarice Lispector...

Só - Mônica besser



em imagens soltas do leblon...

http://www.youtube.com/watch?v=2sLN5RqfyEw

Gotas de silêncio







































Gotas de silêncio


Porque? Não sei. No momento em que me dei conta de que estava definitivamente acontecendo fui atacado por uma forte emoção estonteante que tomou conta de meu corpo fazendo-me trêmulo, vertiginoso e iminente.Não sei o que era, porque não poderia definir nem como medo e nem como segurança, nem alegria exatamente, era algo intensamente manso, uma calma sublime e agitada, uma concentração de serenidade cheia de energia, e uma espécia de nada desceu em meus olhos e pensei que viriam lágrimas, mas apenas sorri, sem alegria ou pavor. As gargalhadas do público me atravessavam feito relâmpagos, e eu nem havia ainda entrado em cena. É certo que eu estava maravilhado, como num pânico tranquilo, onde se depara no cume de uma montanha tortuosa com o cenário deslumbrante do Rio de Janeiro. É desta inefabilidade que estou tentando me aproximar... Deste encanto natural e inerente. Desta água que desce dos olhos cortando a imagem do mundo num brilho de compreensão espantada... De lágrimas invisíveis que sorriem como a chuva de primavera, brilho ofuscante do inefável belo que pode-se perceber no tudo... com meus olhos nada.... nadando. Sim, era um nada que me atacava. Um “Fudeu... e agora relaxe e...” ... E foi como uma avalanche de folhas em ventania que prenuncia tempestade. Sim, uma coisa toda ventosa que enxurrava-me como na abertura de uma represa... uma descarga elétrica forte e sem dor, um apenas existir de movimento, um simples movimentar e ser... Um sendo-movimento. Toda uma espécie especial de despertar . . . Quando um choro se contém, uma alegria deixa de brotar...


Uirah Felipe