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Ocorre que a manhã não é tão cinza e nem tão fria quanto aquela ferida familiar. Ocorre todas as manhãs que a beleza da existência do mundo é a maior de todas as belezas, inerente à toda exuberante feiúra da modernidade pós moderna pós etc o que for que se chame além do eterno hoje contemporâneo. Ocorre que o cinza da névoa é infinitamente mais colorido que o cinza do céu de São Paulo, e todo encontro de olhares ao acaso é mais genuíno que os olhos que combinam de fragarem-se* sem conseguirem se enxergar...
Multidões engulo, os olhares fugidios trincados como bocas cerradas a mordiscar vorazmente na eterna salgada sede, como a de um lobo solitário do mar, um tubarão faminto a viajar por desertos de oceânicas multidões em busca do cheiro do desastre... Invisível vermelho estampado nos jornais. É a violência ou o medo que estão noticiando???
Fluo pela invisibilidade antropológica das calçadas enfeitadas, e cheias de buracos e pés e pedaços de passados esquecidos à se embaralharem com o vento do colorido cinza de uma névoa que sopra vinda do mar. A névoa mergulha toda a cidade, que debaixo dos lençóis brancos, faz transpirar somente a arte nos contornos geológicos e curvas litorâneas...
Mordisco os pedacinhos de paisagem que sobrevivem por detrás de tanta geometria de cimento, concreto e pedras burguesas. No chão da calçada tonta as pedras portuguesas a me empurrar para o céu, penetrando pela alma de meus pés até me fazerem sentir minha ingenuidade pacifica desvirginada por toda a sujeira e sangue derramado pela história muitas vezes negra daquela cidade 'maravilhosa'. Cheia de encantos mil? Chato é não poder negar...
E ocorre todas as manhãs, com a fundamental diferença que, quando aberta aquela ferida, eu grito:
{ { *Fragar – (vivo no vocabulário Mineiro) – ato de enxergar, ver, avistar, contemplar } }
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