quarta-feira, novembro 08, 2006

Saindo do tempo





















Tomei o livro às mãos, apertando contra o estômago: queria digerir aquele livro todinho. O fim parecia o começo. O grande início como é o grande fim. Hoje, não resisti, e cheguei à última página.

E como uma criança com seu velho favorito brinquedo em mãos, me senti desamparado Seria essa a hora de escrever, enfim? Sentei-me no balanço da praça. Meu quadril prensado, meus pés quase enterrados no barro seco. As pombas vigiando minha solenidade, e só elas me compreendiam tão bem: seus olhares tinham mais força e intuição que a dos seres humanos transeuntes. E as pombas me limparam do desamparo em que me encontrava. Não foi preciso escrever, e somente ergui ao céu os meus braços me esticando todo. Senti-me novo.


O livro tombou sobre o barro e me desencaixei daquele balanço (balanço do tempo?). Levantei-me em direção ao verde do um jardim que parecia evaporar na atmosfera de tão iluminado que estava o ar. Senti-me um gênio pintor, subitamente. Afinal, era magia pura ver todos aqueles verdes numa segunda-feira barulhenta. Desejei uma máquina fotográfica. Queria fotografar o tempo.

Fui embora deixando com as pombas aquele livro que era pedaço de mim, já, e por isso agora não precisaria mais carregá-lo, onde eu fosse, eu estaria-o. Fui, e; finalmente, comecei . . .

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