sábado, novembro 25, 2006

Um dia quente, tão quente que quase derreteu






O dia acontece sem um instante sequer de silêncio. Minto: debaixo d'água um quase silêncio me alimentou por instantes; foi o suficiente para que o dia tivesse um brilho especial apesar de todo o cansaço e distância em que me encontrava de mim mesmo. Meus sonhos mais reais vieram à tona e tive que repensar toda a realidade para a minha vida: meu futuro jamais poderia ser o mesmo a partir daquele instante. Muitas dores então subiram à tona junto comigo, que vim buscar o ar úmido à superfície do mar. Vivo desejando lágrimas e de repente me vi ali. Cercado delas, todas juntas, de todos os lugares ao mesmo tempo... . A grande lágrima do mundo, e as ondas, como o grande encanto do choro que nunca acontece.

O dia rolou como uma onda que se esfarela na praia, toda derretida. Algo cresceu dentro de mim. Algum peso me encaixou mais à terra, e algum pensamento me esticou mais ao céu. Ao mesmo tempo estava eu ali fotografando o mundo, me sentindo mais leve e mais pesado. Me sentindo mais presente. Vivendo exatamente o sonho que tinha de viver minha vida. E agora? Qual sonho me levaria onde??

E tinha também aquela estranha sensação de sujeira inevitável por se estar vivo. Parecia sentir um certo veneno igualmente inevitável. Veneno como o de respirar o oxigênio. A sujeira e o veneno faziam de mim ser o que eu era. A forma única como trabalhei as grandes sujeiras culturais e os inúmeros venenos consumidos fez de mim o que eu era. E porque me havia ao mesmo tempo um tal espanto e uma tal admiração por ser eu mesmo? Porque às vezes me sentia enormemente marginalizado e ao mesmo tempo muito especial, e também medíocre e ao mesmo tempo fantástico? Que necessidades eram aquelas que eu tinha de, de repente, fugir de tudo, e aquela outra de de repente me entregar à tudo, ao povo, ao ser... ao trabalho, ao foco nas atividades que farão outras pessoas que não eu mais felizes do que conseguem ser sem eu... E que atividades eram aquelas??

Às vezes eu enxergo tudo, e estou fazendo a coisa mais certa possível. Às vezes não percebo e me desespero... parece que tudo que eu faço tem o peso da inutilidade.

E teve um momento do dia em que eu parei tudo pra pensar no meu pai. De manhã senti a tristeza dele por uma extrapolação emocional descontrolada que ele vivenciou do outro lado da porta do meu quarto: e não adianta ter as portas fechadas, certas coisas se sentem sem nem ouvir, e eu só queria ir em bora; dormi, mais um pouco.

Sonho com essa casa e esse sonho não é meu. Estou farto de sentir tanto o que não sou... Desejo o choro meu e me sinto egoísta com isso e sentimentos estranhos de culpa me perseguem sem eu os entender. E nada dialogam meus paradoxais sentimentos. Crescem independentes, constantemente numa luta voraz e interminável. E escrevo, mais uma vez atacado pela necessidade de me esforçar em tarefas inúteis... E tento dizer-me a verdade e ela me escapa como um profundo segredo. Desejo dizer o íntimo e ele se esvai, tímido, e de novo esse egoísmo da timidez de ser si mesmo e só, só. Gosto da água, e no movimento dela me sei parte disso tudo que sou, inevitavelmente. E aceito todo o peso do mundo e toda a leveza de meus pensamentos e aceito também o grande choque de se estar vivo, e todo este espanto misturado à sensação de entender, como se já se estivesse vindo à um lugar que teoricamente nunca estivemos.

E me canso de sentir-me entendedor sem saber explicar nada. Talvez só o sorriso do olhar consiga explicar com exatidão. Talvez os gênios tenham esse dom de explicar o que seus olhos são. E o coração, esse lugar dentro de mim onde sinto os sintomas de coisas mais fortes que a biologia... esse meu coração descontrolado, insaciável, satisfação por ser eternamente insatisfeito.

Talvez a arritmia explique porque consigo amar tantas pessoas. Talvez eu aprenda a bater em muitos compassos com facilidade. Talvez aprender seja minha maior habilidade, o que é um grande problema, se você aprende de tudo um pouco e nesta catarse do sempre aprender não se especializar em nada que não no ato de simplesmente aprender, viver situações adversas, diferentes, que te obriguem a improvisar e pimba! Aprendendo a finalmente inventar a vida!

Quero aprender à dizer a verdade. Será que a verdade será dita pela mentira de uma literatura? Ou interpretada em um palco ou diante de câmeras e edições? Ou será que em um pequeno instante ela será capturada como uma fotografia? Estará ela no silêncio ou no barulho? Ou na dança entre os dois? Na água ou nas ondas? Ou talvez no vento, e no corpo, e na troca, e no entre . . .

Para falar a verdade eu só queria dizer que hoje eu queria ter deitado no colo da minha mãe e olhado ela profundamente sentindo formigar-me um sorriso por todo o corpo. E teria ficado em silêncio dizendo à ela com meu estado de espírito o quanto ela estava bonita.

Mas pra falar a verdade isso eu queria faz muito tempo, e só hoje entendi a urgência que isso tinha. Talvez o tempo não volte, mas se repita no futuro, remodelando todo o passado...

E descobri que escrevendo estou só e comigo mesmo, e ao mesmo tempo entregue ao tudo, e à todos...


~ uFGg ~




Me sinto extamente como este garotinho da foto: perdido em minha bolha de imaginação, estranhamente encontrado.

Nenhum comentário: