domingo, dezembro 31, 2006
quinta-feira, dezembro 28, 2006
quarta-feira, dezembro 27, 2006
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Ocorre que a manhã não é tão cinza e nem tão fria quanto aquela ferida familiar. Ocorre todas as manhãs que a beleza da existência do mundo é a maior de todas as belezas, inerente à toda exuberante feiúra da modernidade pós moderna pós etc o que for que se chame além do eterno hoje contemporâneo. Ocorre que o cinza da névoa é infinitamente mais colorido que o cinza do céu de São Paulo, e todo encontro de olhares ao acaso é mais genuíno que os olhos que combinam de fragarem-se* sem conseguirem se enxergar...
Multidões engulo, os olhares fugidios trincados como bocas cerradas a mordiscar vorazmente na eterna salgada sede, como a de um lobo solitário do mar, um tubarão faminto a viajar por desertos de oceânicas multidões em busca do cheiro do desastre... Invisível vermelho estampado nos jornais. É a violência ou o medo que estão noticiando???
Fluo pela invisibilidade antropológica das calçadas enfeitadas, e cheias de buracos e pés e pedaços de passados esquecidos à se embaralharem com o vento do colorido cinza de uma névoa que sopra vinda do mar. A névoa mergulha toda a cidade, que debaixo dos lençóis brancos, faz transpirar somente a arte nos contornos geológicos e curvas litorâneas...
Mordisco os pedacinhos de paisagem que sobrevivem por detrás de tanta geometria de cimento, concreto e pedras burguesas. No chão da calçada tonta as pedras portuguesas a me empurrar para o céu, penetrando pela alma de meus pés até me fazerem sentir minha ingenuidade pacifica desvirginada por toda a sujeira e sangue derramado pela história muitas vezes negra daquela cidade 'maravilhosa'. Cheia de encantos mil? Chato é não poder negar...
E ocorre todas as manhãs, com a fundamental diferença que, quando aberta aquela ferida, eu grito:
{ { *Fragar – (vivo no vocabulário Mineiro) – ato de enxergar, ver, avistar, contemplar } }
terça-feira, dezembro 26, 2006
Independentemente
Ah se eu te fizesse feliz
feliz mesmo
assim por ser... por respirar e viver
ah se eu pudesse fazer você feliz
Mas não
meu amor não te liberta
meu amor te aprisiona como um peixe à um aquário
à passear dando voltas e mais voltas
na eterna sensação de que algo que está para acontecer.
Mas o amor acontece no agora e não no depois..
no amor não tem o além da abstração do tempo
o amor é atemporal
independentemente dependente
numa mutualidade sem escolha
sem argumentos que a conduzam
sem contratos que a fechem
o Amor exite
independentemente
Dizer à Ela
Em Trânsito
Em trânsito
A semana voou como uma mariposa machucada; desgovernada, caótica, perdida... Não sabia que amigdalite dava tanta tristeza. Preferia ter ficado gripado. Meus dias passam tontos porque estou tomando antibióticos. Ou talvez por que eu esteja com amigdalite ou talvez porque eu simplesmente esteja tonto esses últimos dias... Sinto que no chão existem inúmeras curvas, penso que é alucinação, mas é sensibilidade. As curvas realmente existem. Nenhum chão consegue ser exatamente reto.
Depois de uma super onda de calor durante toda a semana finalmente uma gorda chuva vem repousar na cidade ensolarada. Meus músculos ficaram todos agradecendo a umidade no ar e a queda da temperatura. Meu corpo pareceu aceitar as mudanças climáticas, mas meu espírito queria muito ver sol... Fiquei triste com a chuva, totalmente à toa, ou talvez porque estivesse tomando antibióticos, ou talvez ainda porque simplesmente eu tivesse muitas tristezas pra ficar triste assim, de repente, como a chuva de verão.
O Natal está chegando e um burburinho gostoso de caos paira por sobre as ruas num frenesi coletivo de euforia consumista. Acho bom e ruim. É divertida a euforia das pessoas, mas a ignorância delas é triste demais.. intragável. Não fosse a ignorância eu teria muito mais orgulho do povo meu pelas ruas, mas tudo legal, porque não considero orgulho um sentimento bom. Aliás não sei exatamente do quê eu me orgulho. Talvez seja dos meus maiores erros... Foram eles que me trouxeram tão longe quanto aqui estou e neles fui capaz de aprender além do que eu poderia almejar alcançar... Sim, de errar eu me orgulho...
É tão bom ser humano, mas parece que poucos desfrutamos deste segredo tão óbvio...
uF
domingo, dezembro 24, 2006
Seguindo para o infinito
Partindo para o infinito...
Ele tinha os pés colados na terra mais que no sapato. Tirou os sapatos. O sol fazia crescer a grama e o verde à seus olhos. Hoje completava 9 anos de vida. Antes que qualquer outro na casa acordasse, ele caminhou pelas águas do rio que musicava a varanda de seu lar. O sol parecia o empurrar nas costas, e ele foi subindo o rio. De repente se deu conta: havia andado além do que nunca andara antes, e o rio dali em diante seria tudo novidade, genuína aventura.
Incentivado pela força da luz nascente à derramar-se perpendicular em suas costas, ele prosseguiu, passo a passo, sentindo cada areia fria rolar pela sola de seu pé, cada lodo estranho alisar a ponta de seus dedos, e toda sua embarcação rio acima deslizar por dentro-e-fora da água. No caminho surgiram muitas pedras (e muito mais lodo) e a água ficou um tanto quanto mais perturbada. Ele então olhou para trás. Já não via sua própria casa, e adiante não haviam mais quintais, era a floresta virgem que adentrava, rio intocado e virgem como ele mesmo era. Não teve relutância, e a coragem lhe abriu no peito como faz a flor das “onze-horas” quando o sol lhe toca no ângulo apropriado para tamanho gozo de experimentação vital, e ele foi adiante...
Enfrentou as corredeiras. Subiu uma queda d'água e o sol avermelhou seu rosto quando chegou em cima, ele sentiu. Sentiu tudo que já vivera até ali, e nesse momento então foi como se deslumbrasse a verdadeira possibilidade de seu futuro adiante tão previsível quanto o passado, cheio de intuições, erros e certezas cegas... Todo molhado, quente, efervescente ... Como se fosse um milho prestes à estoura-se pipoca, estava ele diante do sol e de seus nove anos de idade. E explodiu, repentinamente. Pulou margem afora e saiu correndo por um gramado enorme que sumia-se por horizonte adentro de um vale cheio de verdes claros e escuros. Os cabelos eram como asas que ruflavam naturalmente com o vento. Respirou seus nove anos, atônito. E num tranco, parou de correr. O silêncio da ausência de vento. Os grilinhos muito pequenos com seus barulhinhos microscópicos. Mosquitinhos e um cheiro impregnante de verde, de pasto, parecia que dali sentia o cheiro do planeta inteiro.
Caiu sobre os joelhos, tonto. O coração tinha uma música toda nova em seus compassos. Algum pássaro cantou, e ele soube que só ele soube que o pássaro estava lá, exatamente como ele imaginava, acompanhando o som, o pássaro estar. O Som fértil no ar. Deitou-se, extasiado de liberd4de, respirando a manhã enriquecida de polens. Estava entregue ao desconhecimento, à alegre loucura de se saber pensante, ao inefável encanto de contemplar com todo o corpo, ao pudor de se derreter numa imensa epifania, capaz de, a partir dali, mudar não só a si mesmo, mas, e por isso mesmo, mudar todo o mundo.
uF
no 4o
- Talvez seja este seu veneno a única cura para minha sanidade -
No teto quadrado
um redondo universo gira
tirando o foco de qualquer coisa
as estrelas artificiais
eu abstraio
captando os pseudo-brilhos
para melhorá-los na minha imaginação
e quanto ao barulho do motor do aquário - que já nem tenho mais
ouço o exato ritmo da cidade enfurecida
um batuque trêmulo de compasso acelerado
frenético borbulhar de som ensanguentado e incessante
que me pira e me gira e me gira e me pira
e eu aqui sozinho
entre tantas estrelas
tantas imagens
tantas mentiras
tantas memórias
tantas verdades...
e esse sal que escorre nas lágrimas
este sal indecifrável
este céu salgado de dores e desejos
e inúmeros temperos misturados
às vezes quero me entregar ao vazio pleno
deste giro
mas você, AH! VOCÊ!!!
TU: Sã Consciência
jamais me abandonarás
Sou lúcido até em minhas piores loucuras...
sexta-feira, dezembro 22, 2006
quarta-feira, dezembro 20, 2006
Indo
Indo
Arte, ciência e religião.
Os três pilares do desenvolvimento humano...
A expressão, ( o contato)
a observação, ( o estudo )
a meta-sensorialidade... ( o alcance )
Na minha interna concepção de ecodesenvolvimento meu
tenho como pilares a ciência e a religião
como uma coisa única e fundida
onde o estudo, a observação e a lógica
só tem completude e comprovação
quando o corpo em sensações faz parte integrante
dessa experiência maior
que é estar vivo e experimentar o conhecer
(conhecendo-se portanto)
A arte
é o lugar comum
onde posso finalmente me aproximar de “Deus”
tanto no sentido da onisciência das ciências
quanto no sentido sensitivo-e-sensível
da percepção além da lógica dos 5 sentidos
presente em algumas religiões...
Pra mim uma é estudo da outra
oporem-nas seria como anularem-nas...
E a Arte é como a voz que sai dos meus olhos
na vibração terceira de sentidos que escapam a razão
e captam o íntimo do infinito auge que é viver em comunhão
A arte é o meu cantar um abraço
meu curvar um sorriso
nosso tocar um toque
A arte é meu ir
E a minha ciência-religião
(que não são nenhuma coisa e nem outra e nem as duas coisas juntas)
que é um coisa toda ajuntada (ci re em lig cia ião)
é meu permanecer
mas vou . . .
sexta-feira, dezembro 15, 2006
terça-feira, dezembro 12, 2006
Divagações na boca da Urna
Texto de Caio Fernando Abreu
extraído do livro-coletânea:
PEQUENAS EPIFANIAS
A tosca Interpretação é de Uirah Felipe
quinta-feira, dezembro 07, 2006
Auto-retrato
Lentes de Contato
Meu auto-retrato talvez fosse o auto-retratar
ou talvez fosse o próprio retrato
do auto-retratar
ou ainda
o retratando do mundo
que é tão tudo
que resume em mim...
Retratando-me, retrato-O!
---
Retratando
relato
para o meu inconsciente
o íntimo dos fatos
fotografados eternamente
é como a foto da lente de um poeta
uma memória cheia de sentidos intrísecalizados
de pensamentos, tempos e sabores encadeados
num frenesi retórico de sentimentos gestualizados
misturados em emoções com o palavreado
Um simples de ser não um par de olhos
mas sim aquilo que vê
Um sublime de pertencer gratuitamente
Eterna epifania de viver...
- Uirah Felipe -
Muitas vezes sou invadido pela sensação de que as coisas são muito mais reais depois que já aconteceram. Ou o contrário. Só parece real aquilo que é agora. o resto é praticamente invenção.
...como fugir dos paradoxos?
terça-feira, dezembro 05, 2006
vou que vou . . .
Gotas de silêncio
Gotas de silêncio
Porque? Não sei. No momento em que me dei conta de que estava definitivamente acontecendo fui atacado por uma forte emoção estonteante que tomou conta de meu corpo fazendo-me trêmulo, vertiginoso e iminente.Não sei o que era, porque não poderia definir nem como medo e nem como segurança, nem alegria exatamente, era algo intensamente manso, uma calma sublime e agitada, uma concentração de serenidade cheia de energia, e uma espécia de nada desceu em meus olhos e pensei que viriam lágrimas, mas apenas sorri, sem alegria ou pavor. As gargalhadas do público me atravessavam feito relâmpagos, e eu nem havia ainda entrado em cena. É certo que eu estava maravilhado, como num pânico tranquilo, onde se depara no cume de uma montanha tortuosa com o cenário deslumbrante do Rio de Janeiro. É desta inefabilidade que estou tentando me aproximar... Deste encanto natural e inerente. Desta água que desce dos olhos cortando a imagem do mundo num brilho de compreensão espantada... De lágrimas invisíveis que sorriem como a chuva de primavera, brilho ofuscante do inefável belo que pode-se perceber no tudo... com meus olhos nada.... nadando. Sim, era um nada que me atacava. Um “Fudeu... e agora relaxe e...” ... E foi como uma avalanche de folhas em ventania que prenuncia tempestade. Sim, uma coisa toda ventosa que enxurrava-me como na abertura de uma represa... uma descarga elétrica forte e sem dor, um apenas existir de movimento, um simples movimentar e ser... Um sendo-movimento. Toda uma espécie especial de despertar . . . Quando um choro se contém, uma alegria deixa de brotar...
Uirah Felipe
quinta-feira, novembro 30, 2006
terça-feira, novembro 28, 2006
sábado, novembro 25, 2006
Um dia quente, tão quente que quase derreteu
O dia acontece sem um instante sequer de silêncio. Minto: debaixo d'água um quase silêncio me alimentou por instantes; foi o suficiente para que o dia tivesse um brilho especial apesar de todo o cansaço e distância em que me encontrava de mim mesmo. Meus sonhos mais reais vieram à tona e tive que repensar toda a realidade para a minha vida: meu futuro jamais poderia ser o mesmo a partir daquele instante. Muitas dores então subiram à tona junto comigo, que vim buscar o ar úmido à superfície do mar. Vivo desejando lágrimas e de repente me vi ali. Cercado delas, todas juntas, de todos os lugares ao mesmo tempo... . A grande lágrima do mundo, e as ondas, como o grande encanto do choro que nunca acontece.
O dia rolou como uma onda que se esfarela na praia, toda derretida. Algo cresceu dentro de mim. Algum peso me encaixou mais à terra, e algum pensamento me esticou mais ao céu. Ao mesmo tempo estava eu ali fotografando o mundo, me sentindo mais leve e mais pesado. Me sentindo mais presente. Vivendo exatamente o sonho que tinha de viver minha vida. E agora? Qual sonho me levaria onde??
E tinha também aquela estranha sensação de sujeira inevitável por se estar vivo. Parecia sentir um certo veneno igualmente inevitável. Veneno como o de respirar o oxigênio. A sujeira e o veneno faziam de mim ser o que eu era. A forma única como trabalhei as grandes sujeiras culturais e os inúmeros venenos consumidos fez de mim o que eu era. E porque me havia ao mesmo tempo um tal espanto e uma tal admiração por ser eu mesmo? Porque às vezes me sentia enormemente marginalizado e ao mesmo tempo muito especial, e também medíocre e ao mesmo tempo fantástico? Que necessidades eram aquelas que eu tinha de, de repente, fugir de tudo, e aquela outra de de repente me entregar à tudo, ao povo, ao ser... ao trabalho, ao foco nas atividades que farão outras pessoas que não eu mais felizes do que conseguem ser sem eu... E que atividades eram aquelas??
Às vezes eu enxergo tudo, e estou fazendo a coisa mais certa possível. Às vezes não percebo e me desespero... parece que tudo que eu faço tem o peso da inutilidade.
E teve um momento do dia em que eu parei tudo pra pensar no meu pai. De manhã senti a tristeza dele por uma extrapolação emocional descontrolada que ele vivenciou do outro lado da porta do meu quarto: e não adianta ter as portas fechadas, certas coisas se sentem sem nem ouvir, e eu só queria ir em bora; dormi, mais um pouco.
Sonho com essa casa e esse sonho não é meu. Estou farto de sentir tanto o que não sou... Desejo o choro meu e me sinto egoísta com isso e sentimentos estranhos de culpa me perseguem sem eu os entender. E nada dialogam meus paradoxais sentimentos. Crescem independentes, constantemente numa luta voraz e interminável. E escrevo, mais uma vez atacado pela necessidade de me esforçar em tarefas inúteis... E tento dizer-me a verdade e ela me escapa como um profundo segredo. Desejo dizer o íntimo e ele se esvai, tímido, e de novo esse egoísmo da timidez de ser si mesmo e só, só. Gosto da água, e no movimento dela me sei parte disso tudo que sou, inevitavelmente. E aceito todo o peso do mundo e toda a leveza de meus pensamentos e aceito também o grande choque de se estar vivo, e todo este espanto misturado à sensação de entender, como se já se estivesse vindo à um lugar que teoricamente nunca estivemos.
E me canso de sentir-me entendedor sem saber explicar nada. Talvez só o sorriso do olhar consiga explicar com exatidão. Talvez os gênios tenham esse dom de explicar o que seus olhos são. E o coração, esse lugar dentro de mim onde sinto os sintomas de coisas mais fortes que a biologia... esse meu coração descontrolado, insaciável, satisfação por ser eternamente insatisfeito.
Talvez a arritmia explique porque consigo amar tantas pessoas. Talvez eu aprenda a bater em muitos compassos com facilidade. Talvez aprender seja minha maior habilidade, o que é um grande problema, se você aprende de tudo um pouco e nesta catarse do sempre aprender não se especializar em nada que não no ato de simplesmente aprender, viver situações adversas, diferentes, que te obriguem a improvisar e pimba! Aprendendo a finalmente inventar a vida!
Quero aprender à dizer a verdade. Será que a verdade será dita pela mentira de uma literatura? Ou interpretada em um palco ou diante de câmeras e edições? Ou será que em um pequeno instante ela será capturada como uma fotografia? Estará ela no silêncio ou no barulho? Ou na dança entre os dois? Na água ou nas ondas? Ou talvez no vento, e no corpo, e na troca, e no entre . . .
Para falar a verdade eu só queria dizer que hoje eu queria ter deitado no colo da minha mãe e olhado ela profundamente sentindo formigar-me um sorriso por todo o corpo. E teria ficado em silêncio dizendo à ela com meu estado de espírito o quanto ela estava bonita.
Mas pra falar a verdade isso eu queria faz muito tempo, e só hoje entendi a urgência que isso tinha. Talvez o tempo não volte, mas se repita no futuro, remodelando todo o passado...
E descobri que escrevendo estou só e comigo mesmo, e ao mesmo tempo entregue ao tudo, e à todos...
~ uFGg ~
Me sinto extamente como este garotinho da foto: perdido em minha bolha de imaginação, estranhamente encontrado.
sexta-feira, novembro 24, 2006
Divagações em torno de uma antiga epifania . . .
Outro dia assisti na TV que a monogamia nasceu junto com a idéia de propriedade privada a cerca de 5.000 anos atrás. Penso, então, que aqui já habitamos um paraíso absoluto, onde agora um inferno caótico impera as sociedades humanas. É incrivelmente curioso que a idéia de possuir algo como moradia, terra, e até mesmo animais, enfim, tenha vindo com o mesmo segmento de pensamento da idéia de se ter a propriedade de outra pessoa, outro ser igualmente humano. Já acho absurdo alguém acreditar que possuí um outro ser, e seja ele de qualquer espécie (e não é que me soa realmente absurdo, na realidade compreendo a infantilidade de tais sentimentos – será que deveria chamar essas 'emoções incontroláveis' de sentimentos culturalmente desenvolvidos? - de qualquer maneira, compreendo e acolho esta imensa solidão de querer possuir tão pouco, quando tudo, a bola azul inteira, é parte integrante da sua postura mais sua e única natureza de existir neste universo.) Mais absurdo, no entanto, é acreditar que se possua a liberdade de limitar a liberdade de um outro ser. E imagine também o seguinte, voltando a parte menos corrosiva deste sentimento: como um único homem, ser humano ('dotado de poli encéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor') consegue de fato possuir por exemplo 30.000 hectares de terra? Um papel diz isso, e prova tudo, e daí? Quer dizer que um papel é capaz de provar que eu possuo o universo??? É claro que não, um papel não prova nada... Me parece óbvio que este homem só "possua" aquilo que ele desfrute, e acho definitivamente absurdo desfrutar de tanta terra que se perde horizonte afora, de maneira que ninguém mais possa desfrutar daquela terra ao mesmo tempo... Como, pois, um papel dizer a mentira cabeluda de que um único ser (um todo poderoso) tem o direito, defendido pelo Estado, de possuir de maneira exclusiva uma propriedade sobre lugar tão vasto??? Há muita papelada morta pra contar e reafirmar essas mentirinhas BURROcráticas. Imagine que duas pessoas que se amem de verdade sejam forçadas ou coagidas pela sociedade a assinarem um contrato um de posse do outro, um intervendo nos direitos legais do outro. Muito bonito? Mesmo? Sempre preferi e optei por acreditar no amor como uma idéia íntima da liberdade, da espontaneidade vital e da alegria gratuita. E como ser livre se, não por acaso, se é propriedade de outrem? E pior, se acaso se possuí alguém...!?? (tremenda responsabilidade, não?) NÃO! Não quero me casar, prefiro amar a “ser feliz pelo resto da eternidade”. Prefiro viver de surpresas que de restos, de aprendizados que de limitações. Prefiro viver a transformação de tudo que burlar o tempo e “fingir que a morte não existe e Deus e o amor sim...”. Prefiro conhecer e desvendar os mistérios, viver o mais profundo, o mais além, e ainda saber olhar o horizonte por três horas a sorrir e sem saber o por quê. Sem ter 'por que's na cabeça e tudo tendo uma música que só eu conheço a melodia mas, mesmo assim, nessa solidão de entender tanto o compasso da vida e ver a dança acontecendo tendo que se concentrar no canto pra não perder o tom do crescimento, consegue-se com o pensamento sublimar na imensidão do tudo o sentimento que prefiro não dar um nome... E essa é a minha comunicação. Contratos não me servem para amar, mas olhos, sim...
Uirah Felipe Grano Gaspar
quinta-feira, novembro 16, 2006
Ah...
"Ah essa vida mansa de manhãs ensolaradas e segredos nítidos como o ar quente da atmosfera. Tragavamo-nos de sabermos o mistério profundo de não sabermos nada, e nada mais, e apenas aquilo, de apenas coexistirmos com nossas pequenices e imensidões. Fotografando o belo, ouvindo o cultivo à esta entidade que nos persegue disfarçada de inspiração. E porque somos tão assim quando juntos? Tão diferentemente iguais à nós mesmos quando próximos um do outro? Serão certezas ou sensações? Será a razão das coisas que nos aproxima, ou o simples bem estar inefável de vivermso tão bem assim?... O que será não sabemos, temos o dom da dúvida e não do entendimento. E a desordem das nuvens no céu foi o que nos fez mais silêncio. Foi boa a manhã, com alegria de catavento em mãos de criança em dia quente e cheio de vento gostoso. O ar tinha cheiro de pólen, estava escrito na superfície das poças d'água que refletiam uma incrivel ilustração do azul-céu"
terça-feira, novembro 14, 2006
Momento de Solidão e só:
quarta-feira, novembro 08, 2006
Saindo do tempo
Tomei o livro às mãos, apertando contra o estômago: queria digerir aquele livro todinho. O fim parecia o começo. O grande início como é o grande fim. Hoje, não resisti, e cheguei à última página.
E como uma criança com seu velho favorito brinquedo em mãos, me senti desamparado Seria essa a hora de escrever, enfim? Sentei-me no balanço da praça. Meu quadril prensado, meus pés quase enterrados no barro seco. As pombas vigiando minha solenidade, e só elas me compreendiam tão bem: seus olhares tinham mais força e intuição que a dos seres humanos transeuntes. E as pombas me limparam do desamparo em que me encontrava. Não foi preciso escrever, e somente ergui ao céu os meus braços me esticando todo. Senti-me novo.
O livro tombou sobre o barro e me desencaixei daquele balanço (balanço do tempo?). Levantei-me em direção ao verde do um jardim que parecia evaporar na atmosfera de tão iluminado que estava o ar. Senti-me um gênio pintor, subitamente. Afinal, era magia pura ver todos aqueles verdes numa segunda-feira barulhenta. Desejei uma máquina fotográfica. Queria fotografar o tempo.
Fui embora deixando com as pombas aquele livro que era pedaço de mim, já, e por isso agora não precisaria mais carregá-lo, onde eu fosse, eu estaria-o. Fui, e; finalmente, comecei . . .
O Peixe e O Pássaro
Era uma vez dois lindos filhotes: Um peixinho e um passarinho. O peixinho, coitado, nasceu em um aquário. O passarinho, tadinho né, nasceu engaiolado. Na loja onde foram deixados, num canto, separados (separados do resto porque ainda eram filhotes demais para serem vendidos) eles conseguiram se saberem através de certa luz especial do dia que só acontecia quando um raio de sol entrava pela fresta numa janela emperrada e iluminava a gaiola. O espelinho que tinha na gaiola então refletia parte destes raios de sol e iluminava finalmente o aquário. Neste dado mágico instante de poucos minutos, todos os dias, ambos se entre-olhavam, imensamente curiosos de verem outro ser, e vivo, e, igualmente aprisionados, se observavam. Um espanto sublime, entendendo-e-convivendo com a dor do outro, a dor de ter nascido o que se é, e como se pode ser...
Num dia feliz, desses que o sol amanhece cantarolando cantigas que ele improvisa no momento (inspiração das novidades coloridas que o céu trás ao refletir os novos raios a desvirginar com luz toda a pintura que trans(des)aparece no breu noturno) algo de muita importância aconteceu na vida de ambos, quase um milagre. A loja fora vendida, e o novo dono, um revolucionário que não tinha o menor intuito de tocar aquele negócio para frente, antes de destruir tudo pra fazer a reforma e adaptar o espaço à seu projeto de ONG, libertou um a um cada dos animais que ali viviam. E foi triste para o peixinho constatar que sua família não vivia nos outros aquários que não via. Não havia um sequer de sua espécie, e para ele a liberdade fora uma gigantesca solidão: no oceano não havia o raio mágico e único de luz pra iluminar uma outra vida com quem pudesse, talvez, viver um grande amor, palavra que desconhecia completamente, por assim vivê-la. Na liberdade tudo era luz demais e, mesmo assim, nenhum dos outros peixes o enxergava. Para o passarinho não foi muito diferente. Ao ver todos os outros pássaros serem libertados e voarem em direção ao horizonte, teve de sair caminhando. Não sabia como usar aquelas suas asas duras, de penas espessas e pesadas. Bateu forte as asas mas não foi possível voar. Nenhum pássaro voltou pra ajudar a lhe ensinar a arte do vôo. E baixou a cabeça, mais uma vez estava solitário.
A primeira semana de liberdade fora um total tristeza: o desamparo pairou, sobre ambos os animaizinhos agora livres. O peixe sem ter amigos olhava muito o céu acima da superfície, na busca de algo que talvez o refletisse. O pássaro, andava costeando o litoral, vendo o esfarelar das ondas na areia e nas pedras tentando entender porque nunca fora capaz de fazer o vôo que os outros pássaros fizeram tão naturalmente. Até que um dia os olhos deles se encontraram novamente. O passarinho na pedra, o peixinho dentro d'água. Aquele olhar molhado parecia ser a fonte de todo o oceano: mar de lágrimas. Já o peixe que via o passarinho na pedra não entendia porque ele não voava logo pra liberdade, mas tinha a alegria de ter ali a salvação pra sua solidão. No entanto um sentimento muito estranho o envolveu e ele não conseguiu conter a esperança que fez faiscar em seus olhos, olhar proposital de pura doação. O pássaro, ao absorver aquela fagulha vital, de repente acreditou e deu um pulo . . .
O pássaro podia voar sim, mas era muito esforço aquele. Não importava, voar já era grande e sublime para ele que era tão pequenino e ainda frágil em sua existência. Voou com muito esforço rumo às ilhas que via ao longe. O peixe, desamparado com o que causara, não teve escolha se não seguir o vôo baixo daquele passarinho que se esforçava tremendamente pra manter-se suspenso no ar. E era de tamanho esforço para o peixinho nadar também. Nadou voraz na busca de não perder-se daquele único em que sabia caber-se. Nadou e nadou e fez muita força para acompanhar aquela velocidade, até então impossível. Estava ficando para trás e no desespero de perder o pássaro amigo de sua vista ele saltou para fora d'água. O pássaro, exausto de tanto bater suas asas perdeu um pouco as força e de repente, mergulhou.
E um milagre se presenciou mutuamente: o peixe voava, o pássaro nadava. Um nadava melhor que o outro voava e vice e versa. E ficaram a alternar-se entre água e ar, céu e oceano, num beijo interminável entre suas essências tão próximas: viver. O infinito de suas buscas finalmente encontrou um ritmo, um lugar onde sabiam dançar a vida.
O peixe cresceu: peixe voador. O pássaro descobriu-se: mergulhão. E então se ensinaram e foi ali que tudo começou. Onde uma vida começa, uma história finalmente acaba . . . E foi assim que o pássaro e o peixe se amaram, e todo o resto do mundo ficou para trás.
É
Quero desabafar: sabe, vez em quando acontece uma série de acontecimentos de força incontrolável. Tão difícil explicar como ... É toda uma rede de acontecimentos que poderia narrar mas gastaria horas tentando explicar uma coisa que deve ser no fundo tão simples. Tem momentos muito diferentes na vida, mas a intensidade parece-me uma coisa presente a todo instante. Parece que o mundo cai a cada instante, que o universo inteiro está em queda absurdamente rápida, como numa tempestade que percorre o corpo numa adrenalina inefável, como música... E eu misturo tudo numa coisa só, o tempo inteiro... Tempo? Uma coisa tão escapada de si mesma me faz ser um viver indomesticável como sou. Não tenho tempo, estações imprevisíveis, pólen invisível que aspiro sem perceber, mas que me fecunda com seu perfume invisível. Passado, presente, futuro, porque nesta ordem??? Pra mim é P(assado)RE(futuro)SENTE . . .É uma coisa só que se flui em si mesma, sem divisões tão nítidas como a matemática das palavras...
Não consigo desabafar: é tudo tão epifânico, escrever é um ato que por si me transforma tanto que ao fim do texto já nem reconheço o que talvez tivesse sido aquilo que me lembrava . . . INTENSIDADE: Porque tanta? E nisso tudo muitas vezes enlouqueço de não saber ao certo porque sou naquilo que estou sendo e simplesmente fluo selvagem a perceber os atos em seus exatos acontecimentos, sem pensamentos e somente desejos... e dores. Sou o sendo, vivo, tento, mas não entendo.
terça-feira, novembro 07, 2006
10entendimento
Gangorra
. . .
Leveza
é ter o dom da transparência aparente
num domingo
e o sol nascente
entre as nuvens
cores reluzentes
e nada mais
no toque da tangente entre dois segredos
o círculo do fogo finalmente chove
sua água tão abençoada
pelas forças da eletricidade de existir
e enfim molham-se os olhos
com a umidade do inefável improvável
musica é a leveza pra expressar
o que dança, só, pode sentir
Amor música
Sexo dança
e desisto dos segredos
meus olhos brilham
diante dos mistérios
e nada mais:
nada mais
Nado: leveza
sexta-feira, novembro 03, 2006
Confissão dialogada
trecho de 'O diálogo que nunca existiu'
De vez em quando tenho uma necessidade visceral de abandonar completamente o ambiente urbano, como que sem isso eu seria capaz de enlouquecer definitivamente. Mas nem sempre posso me ausentar da urbem, e, infelizmente, sim, enlouqueço. É chato ter que se dobrar tanto pra se enquadrar no aprisionamento do funcionamento social urbano. Também é chato existir essa divisão tão nítida entre o mundo-do-homem e o mundo-do-mundo. E porque prefiro tão claramente o mundo-do-mundo? Será que me sinto mais parte dO Mundo que do mundo-do-homem? Sim, me sinto mais parte de tudo que não conheço do que daquilo que me soa familiarmente óbvio. No entanto, o mundo-do-mundo sem os olhos de um olhar advindo do mundo-do-homem de nada me contenta. Preciso mostrar pro homem-do-mundo-do-homem como o mundo-dele pode ser tão bonito quanto o mundo-do-mundo.
_Mas que mundo-do-mundo é esse que você está falando?
_É o mundo das coisas como elas não se encaixam, mas fluem em congruência harmônica
_Como assim?
_É o mundo onde é redondo e por isso não tem fronteira, é tudo uma curva de transição
_Tá, mas como assim?
_Um mundo onde não tem quebra nem limite, um mundo redondo enfim... talvez azul.
_Não entendo...
_É isso! Um mundo onde haja o “não entendo” pra fazer viva a beleza de existir
_Talvez você esteja certo...
_Talvez
_Mas ainda não entendo
_Eu também não...
_Só mais uma coisa, esse diálogo nunca existiu né?
_Nunca.
_tem certeza?
_Não (...) Se nunca existiu como pode ser um trecho?
_É só um título
_Mas poderia ser uma nota
_mas é um título
_tem certeza?
_não
_nem eu sei...
_nós nunca sabemos
_sim vivemos
_sim, vivemos..
(Trecho de "trecho de 'O diálogo que nunca existiu'", de Uirah Felipe)
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